2013 – O que você quer ser quando crescer ?

Ontem, estava conversando com meu marido sobre o estagiário que trabalha comigo nesse momento. Um garoto inteligente e brincalhão de apenas 16 anos. Esse garoto ainda tão jovem já tem sua vida profissional traçada, já fora orientado.

Explico.

Aqui na França existe um acompanhamento de orientação profissional a partir do ensino fundamental. Que “visa” oferecer oportunidades para todos pesando na capacidade especifica de cada um.
O que parece ser muito democrático e avançado, esconde a meu ver um lado cruel.
Alunos inteligentes como meu personagem ai de cima, mas que nao se adaptam à cultura escolar são considerados maus alunos. E taxados dessa forma em seus apenas 16 anos.
Nao tendo capacidade intelectual suficiente nao poderá ser medico, nem advogado, nem artista, nem engenheiro, professor etc etc etc… sua capacidade escolar o orienta a ser recepcionista ou garçom. Afinal de contas, precisamos desses profissionais em falta em um pais tão turístico.
Nada contra essas duas profissões, já fiz as duas coisas.
Que ele queira ser recepcionista ou garçom ou lixeiro, isso nao é um problema. Mas uma equipe de psicólogos, pedagogos, professores e pais que decidem que esse garoto nao poderá ter uma outra profissão não me parece algo tao democrático assim.

Damien me disse para tentar convencê-lo de que o que ele acredita ser bom pra ele hoje, nao sera, talvez, no futuro. Mas eu nao acho que tenho esse direito. Quando tinha 17 anos, meu pai falou e falou que eu nao deveria estudar pra ser professora. E eu, como uma boa adolescente, nao ouvi e fiz o que eu achava que deveria fazer.

Sera que temos mesmo o direito de tentar influenciar as pessoas? Mesmo que seja por uma “boa” causa? A equipe de orientação do seu colégio deve acreditar que estão ajudando.

So sei que esta estoria toda, me faz pensar no meu ultimo trabalho do mestrado que falava justamente da forma de ver a Educação, forma esta que comecei a aprender com a escolha que fiz aos dezessete anos.

Segundo Paulo Freire, a Educação não é neutra. Ela pode tomar duas direções: contribuir para o processo de emancipação humana, ou aprisionar e aprender ao ser humano ser passivo face à realidade existente.

E tanto a Educação francesa como a brasileira estão mais associadas a esta segunda opção. Uma tentativa de deixar as coisas como estão. Um mundo capitalista que cultua o exibicionismo. Onde ter é mais importante do que ser e que exige de nossas crianças um sucesso escolar. Sucesso esse cada vez mais associado ao profissional e portanto, financeiro de uma lado, e de outro lado tantas outras que não o alcançarão.

Abandonei as duas porque não acredito nesse modelo educacional. Pena que aos 16 anos esse menino sorridente  ainda não entenda que ele não precisa se deixar levar por essa “democracia” de fachada.