Você quer trocar um rim por um Ipad: SIM!!!

Na semana passada todos comentavam o caso bizarro de um chinês de 17 anos que vendera seu próprio rim para poder comprar um Ipad. Logo que soube da notícia o que me veio em mente foi aquele antigo programa de televisão onde um participante entrava em uma cabine com isolante acústico dentro da qual via apenas uma luz apagada, ao vê-la se ascender deveria dizer sim ou não. Enquanto isso no palco o apresentador (Silvio Santos) mostrava duas opções pelas quais ele deveria escolher apenas pela indicação da luz sem saber o que estava escolhendo. As vezes, as pessoas trocavam coisas bizarras como uma super bicicleta por um abacaxi.
Tenho tentado entender o que acontece no nosso mundo moderno, moderno líquido, pós-moderno, contemporâneo, seja lá qual definição empregar para o momento atual. Tenho lido diversos escritores e assistido diversas palestras, mas quanto mais estudo o tema mais confusa eu fico. Às vezes acho que estou chegando a uma conclusão e de repente tudo fica mais confuso, mais complexo demandando ainda mais reflexão.


Esse fato, no entanto, confirma um pouco os caminhos que tenho percorrido: a importância que damos a determinadas coisas que deveriam ser consideradas desnecessárias em detrimento a outras tão importantes.
A que ponto uma sociedade doente gera indivíduos que são capazes de vender seus próprios órgãos para adquirir coisas tão superficiais. Ok… um Ipad pode ser bacana embora eu nem saiba ao certo para que serve. Mas a ponto de achá-lo mais importante que um órgão vital…
A todo momento me vejo nesse programa de televisão que propõem as coisas mais engraçadas: você quer trocar uma viagem dos sonhos por um tratamento contra celulite? Sim. Você quer trocar o convívio com seus filhos para poder comprar mais sapatos, bolsas e roupas? Sim. Você quer trocar apenas um sábado à noite para ajudar seu melhor amigo ou irmão? Não.
Para Zygman Bauman, sociólogo polonês, os cidadãos transformaram-se em indivíduos, ou seja, a grosso modo deixaram de pensar no bem-comum para pensarem apenas em si próprios.
Esse fenômeno muito conhecido como a individualização seria uma consequência da emancipação dos seres humanos. Essa emancipação é bastante complexa para ser explicada em poucas palavras, então sugiro a leitura do livro Modernidade Líquida .
O que posso adiantar é que essa indiviualização tem como uma de suas características a liberdade conquistada pelos seres humanos em fazerem suas próprias escolhas, sentindo-se perdidos por não saber o que escolher.
Além disso para esse filósofo, um tanto radical, a vida pública não é mais o sentido do “bem comum e dos príncipios da vida”, mas apenas um necessidade de “fazer parte da rede”. Apenas expor suas vidas privadas em meios públicos, mas não mais se engajar por melhorias nas esferas públicas de fato.
Sendo assim não é de se estranhar a prioridade dada a esse jovem chinês em obter um Ipad.
Antigamente considerávamos como heróis homens que lutavam e até mesmo entregavam suas próprias vidas em prol de um “causa, hoje muitos desperdiçam suas energias adquirindo artigos que perderão seus valores junto com o próximo lançamento.